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O mundo anda estranho...

Confesso que ao fazer esta afirmação, me sinto como um senhor sentado em uma poltrona de couro marrom, com seu cachimbo em uma imensa biblioteca, refletindo sobre a vida.

Não, não sou um senhor sábio, mas uma jovem senhora que está caminhando, espero eu, para me tornar sábia. Para isso, é inevitável refletir sobre a dissonância cognitiva ao qual as pessoas são submetidas diariamente.

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Note que procurei não utilizar “mundo” e sim “pessoas”, como voz passiva; embora eu considere que o fenômeno a que me refiro é global. Assim, pretendo deixar esta reflexão um pouco mais pessoal.

Pois bem. Quinta-feira, onze de julho. Chego do trabalho e me esparramo na cama para descansar.  Ao rolar o feed de uma rede social, sou bombardeada pelas mesmas notícias: a declaração de uma artista sobre a traição conjugal sofrida enquanto grávida.

As opiniões divergiram. Muitos partiram em defesa da moça, enquanto outros, indignados com a oportunidade desperdiçada, pelo marido traidor, de ter uma mulher tão bonita; se concentravam em refletir sobre como isso poderia ter acontecido com uma bela, jovem e proeminente artista.

É nesta hora que manifesta em mim, o lado ranzinza dos Poznianskys (sim este é o nome original da minha família paterna, e que nitidamente não fazem cerimônia para fecharem a cara e expressarem as suas duras críticas). E quando me refiro ao mau humor, não diz respeito à traição em si, mas ao fato de que ela se tornou notória apenas, por se tratar de uma jovem, bela e proeminente artista da atualidade.

Neste momento lembro-me de Nelson Rodrigues. Imagino-o apreciando os eventos da atualidade. Com certeza ele estaria recrutando os inúmeros detalhes para comparar se faltaria algum em qualquer uma de suas crônicas de ”A vida como ela é.”

Considero que existem diferenças sim. Naquela época, o puritanismo forçado (perdoe-me o pleonasmo imposto intencionalmente), era menos evidente.

E falo isso porque todos os dias nos deparamos com as mais bizarras notícias, as quais não parece incomodar a legião de pessoas que, de repente mostram-se indignadas com uma traição.

Note que quando digo bizarras, estou sendo muito eufêmica.

A começar pelas transgressões da atualidade, sejam elas de caráter: físico, moral, intelectual e econômico. Devo salientar que muitas delas, acontecem sob aplausos da sociedade, a começar pela mídia falsamente puritana.

A condescendência e permissividade da sociedade para práticas aparentemente inofensivas como: a sexualização precoce de crianças, o estímulo à promiscuidade através das novelas e outros tipos de entretenimentos, do consumismo competitivo visando “parecer ser”, do estímulo à insatisfação por existir, entre outros, têm produzido um verdadeiro exército de pessoas infelizes emocionalmente e que buscam, através dos constantes estímulos da dopamina fásica (aquela de recompensa rápida), conseguirem transitar pela vida, de forma plástica e minimamente impulsionada.

Do ponto de vista individual, creio que não haveria problemas, afinal, cada ser humano é único recebendo uma educação personalizada, ainda que muitas vezes, precária. Entretanto, quando avaliamos que cada um de nós necessita de interações que validem as nossas condutas, percebemos o quão reféns somos de uma sociedade que se encontra profundamente enferma.

Deixe-me explicar:

Gosto muito da teoria polivagal de Stephen Porges. Nela, encontramos algumas explicações plausíveis sobre o porquê da necessidade de interação dos mamíferos entre si. Segundo a teoria, existe uma hierarquia determinada pelo  sistema nervoso autônomo, o qual estabelece uma conexão profunda de nosso sistema nervoso com o de outro mamífero. Esse mecanismo é chamado de neurocepção.

Esta capacidade de ler ou identificar a condição neurológica do outro, de forma inconsciente, faz com que regulemos uns aos outros através do sistema nervoso vagal ventral, promovendo calma, bem estar e tranquilidade às pessoas as quais nos relacionamos. Seria uma espécie de telepatia reguladora.

Contudo, este sistema de corregulação, é acionado de forma positiva somente à medida que nos sentimos seguros nos relacionamentos. De outro modo, o sentimento gerado é o de necessidade de fuga imediata ou ainda, de paralisação ou desesperança; quando então, o sistema nervoso vagal dorsal é acionado, enfraquecendo e adoecendo física e emocionalmente os indivíduos.

O entendimento sobre estes mecanismo explicaria, por conseguinte, a necessidade de nos movermos em grupos dentro das sociedades, sejam elas micro (como no caso da família ou escola) ou macros, como no caso dos grupamentos sociais que estabelecem leis ou diretrizes, constituídas a fim de promoverem mudanças relevantes e duradouras.

Agora, fica fácil entender o porquê políticas que visam a divisão da sociedade, a dissolução da família e dos grupos sociais que compartilham dos mesmos valores; têm sido largamente implementadas.

Além disso, fica fácil entender porque a sociedade contemporânea encontra-se cada vez mais enfraquecida e desequilibrada no que diz respeito a estabelecer grupos e papeis definidos que contemplem a proteção, cuidado e zelo para os segmentos verdadeiramente necessitados. Sem esquecer claro, da fragilidade dos vínculos observada na atualidade.

O caos interessa. E existe método para a sua implantação.

Como sempre digo: a solução está no conhecimento e entendimento que propicie a valorização do simples.

A solução passa pelo restabelecimento de relacionamentos. Ela não se encontra no individualismo pregado pelos especialistas de redes sociais que, com a finalidade de obterem notoriedade, ensinam as pessoas a adotarem posturas rígidas de autovalorização.

A regulação emocional para a construção de uma sociedade forte e saudável, passa pela disposição das trocas de valores, da reformulação de condutas que restabeleçam hierarquias junto à família, escola e outras instituições responsáveis por forjarem o caráter dos jovens, preparando-os para uma vida verdadeira, onde se responsabilizem pelas consequências de suas ações.

Não existe fórmula mágica. O trabalho é árduo e necessário.

O restante é sensacionalismo barato de rede social.

 

 

Créditos (Imagem de capa): Pixabay

Comentários:

Dra. Cintia Tokio

Publicado por:

Dra. Cintia Tokio

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