“As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras.”
(Friedrich Nietzsche)
Sou uma jovem senhora.
Gosto muito de afirmar isso. E quando o digo, me divirto com as mais inusitadas reações dos meus amigos.
Por receberem de maneira retumbante, a expressão parece ser interpretada por um viés autodepreciativo. Entretanto, não se trata disso.
Após quase meio século de vida, entendo que posso começar a emitir uma opinião sensata. E para mim, isso é muito importante, quase que uma validação de certa importância no mundo.
Pois bem:
Sou uma jovem senhora observadora. Aliás uma observadora exaustiva, quase que obsessiva. E não me orgulho disso.
Observo por exemplo, as perguntas desinteressadas.
As pessoas se esforçam continuamente para parecerem interessadas umas pelas outras. E neste ponto, destaco que para nós humanos, existe uma necessidade visceral de parecermos alguma coisa...
Sim, parecer é mais importante do que ser.
O impacto do parecer é momentâneo. Não custa grandes esforços e quando envolvido pela dúvida sofisticada, pode até mesmo soar como sexy.
O ponto é: ser dá trabalho.
Admitir que se é custa, na maioria das vezes, o preço da verdade e esta, nem sempre é conveniente.
Acontece que vivemos em um momento em que estamos exaustos demais para nos esforçarmos para ser.
Este hiato sem precedentes pelo qual passamos e, esperançosamente, prefiro chamar assim; tem nos consumido de tal forma, que toda a carga cognitiva a qual deveria ser propulsora de desenvolvimento espiritual e pessoal se esvai com devaneios rasos.
Deixe-me explicar:
Creio que o processo pelo qual a sociedade contemporânea experimenta, ou se faz objeto de experimentação, não se trata apenas de distrações artificiais, mas sim uma involução mental ocorrida de forma paulatina, que não se importa pela diferenciação entre ser e parecer.
As ações e seus resultados são efêmeros e, em certo ponto é bom que seja assim, afinal, nem sempre são satisfatórios de se observar ou sentir.
Tomemos como exemplo os relacionamentos e nossas perguntas desinteressadas: estamos cansados demais para dialogarmos. Os nossos ouvidos estão aptos a ouvirem apenas o que nos apraz. Queremos os “softs” e as massagens contínuas em nossos frágeis egos.
E quando algo ou alguém discorda de nosso puritanismo ideológico, temos todo os motivos do mundo, ou melhor dizer do “nosso mundo”, para nos afastarmos e inflarmos a nossa utópica bolha etérica.
Esquecemos entretanto, que toda mudança advém do contraditório. Mas como permiti-lo, se precisamos parecer solidários a todas as causas, e de forma quimérica mudarmos os cenários apenas concordando?
Não... Não somos solidários a todos.
E de tanto tentarmos parecer ser, temos sido egoístas e viscerais, como as crianças quando em cenas escandalosas nos supermercados, suplicam por atenção.
Para finalizar, sugiro que o ponto de intersecção de uma digna jornada seja a gratificação. Não a instantânea, a qual ingenuamente buscamos em algum momento da nossa vida; mas a de longo termo, quando finalmente abandonamos o que eu chamaria de ponto cego do nosso ego e para a qual a nossa existência encontraria sentido: o qual eu chamaria de propósito.
Nele se encontra todas as manifestações do ser: as dores, alegrias, devaneios, satisfações, frustrações, discordâncias, catarses e prazeres; as quais inexoravelmente são definidas por Vida.
Créditos (Imagem de capa): Imagem de Claire Diaz por Pixabay
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