Para gáudio de quem não aprecia temas/assuntos fraturantes, ofertarei hoje “um refresco de sabor e apreciação unânime” (pelo menos assim o creio): uma lista sugestiva do que considero serem as melhores leituras duma vida.
É subjetiva, por óbvio, pois que se trata duma escolha expressa no impacto que tais peças de arte literária produziram em mim e na minha trajetória.
Não será, todavia, uma panaceia milagrosa ou uma poção mágica para resolver a incontornabilidade duma realidade cristalina: a de que educação & livros, por si só, não resolvem ou dissipam as necroses cognitivo-emocionais do ser e o mal-estar civilizacional, visto que bem antes duma educação formal ou não formal poder produzir os melhores efeitos a que se deveria propor terá que existir um tal de cabedal moral...
Sem fundamento moral e ético revestindo as estruturas do intelecto e das emoções nenhuma educação ou autodidatismo trará resultados auspiciosos, no que à erradicação da patologia moral e cognitiva concerne, maleita, essa, que, hodiernamente, assume proporções pandêmico-epidemiológicas em tudo o que é cadinho deste terreno reino.
De outra sorte, para que um catálogo assim possa, também, produzir a máxima ressonância no leitor, este terá que passar a auto-desenvolver uma hermenêutica e uma heurística que leve em conta, não só, o mero conhecimento, intelecção, ensinamento, estética e informação contida em cada leitura realizada, mas uma heurística e hermenêutica que se alimente da percepção e vivência direta do real, utilizada à luz duma consciência lúcida e integral de si e de todos os fenômenos que orbitam à sua volta – vivenciados por vós e não fruto do falatório alheio e/ou midiático –, e que seja acompanhada dum incessante emaranhado de deduções e concatenações, pois que tudo o que diz respeito aos affairs humanos está interligado, desde os seus primórdios, numa espiral de eterno retorno no tecido espaço-tempo...
Salvo erro minha primeira leitura extra quadrinhos do Patinhas e do Mickey - aquilo que em Portugal dizemos de livro sem desenhos - foi aos 16 anos (para vocês verem o quão alguém que tem “um negro diagnóstico reservado de problemático e prognóstico de ajudante geral”, emitido e certificado por quase todos os que o rodeavam, pode vir sempre a surpreender...).
De lá para cá, ainda que não haja registros contábeis que o atestem, não me lembro de andar sem um livro na mão.
De entre os romances propriamente ditos - a clássica ficção -, e sem qualquer ordem classificatória de preferência, a lista marcante e predileta do signatário (se bem que nestes sete primeiros casos se lhe junte, também, a classificação mitológico-fantástica) começa com Homero e suas Ilíada e Odisseia que, logicamente, “abriram os portões e fizeram honrarias” a Virgílio e sua Eneida. Rei Édipo, de Sófocles, vem em seguida, e já saídos da Grécia para a Grã Bretanha, não há como não citar As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley, mas, fundamentalmente, O Senhor dos Anéis e O Hobitt, de J. R. R. Tolkien.
Esquematicamente, e a partir daqui, anotem-no:
- Servidão Humana e Fio da Navalha, Somerset Maugham;
- Martin Eden e O Lobo do Mar, Jack London;
- David Copperfield, Charles Dickens;
- Dom Quixote, Cervantes;
- Conde de Monte Cristo, Alexandre Dumas;
- Anna Karenina, Tolstói;
- Os Irmãos Karamazov, Crime e Castigo e Demônios, Dostoievski;
- As Pupilas do Senhor Reitor, A Morgadinha dos Canaviais, Uma Família Inglesa e Os Fidalgos da Casa Mourisca, Júlio Dinis;
- Os Maias, O Primo Basílio, O Crime do Padre Amaro e a Relíquia, Eça de Queiroz;
- O Alienista, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro e Helena, Machado de Assis;
- Capitães da Areia, Teresa Batista Cansada de Guerra e A Morte e A Morte de Quincas Berro d’Água, Jorge Amado;
- Ensaio Sobre a Cegueira, José Saramago (um auto-referencial brilhante - do autor, saliente-se! -, contém ironia);
- As Vinhas da Ira e Ratos e Homens, John Steinbeck;
- A Revolta de Atlas, Ayn Rand;
- Fahrenheit 451, Ray Bradbury (só pela magistral ideia que dá corpo à distopia, pois considero que a segunda metade da narrativa deixa a desejar em termos literários. Perguntar-se-ão, talvez: “E 1984, A Revolta dos Bichos e Admirável Mundo Novo, não consta da lista”? Não! Estou convicto que tais obras e autores – agentes do sistema que nos escraviza, entre tantos outros - foram roteiros, predições e terraplanagens da distopia real em que estamos inseridos. Vivenciamo-lo “ao vivo e a cores” com um agente malfeitor atual - Yuval Harari - cujas obras estão a ser consumidas a rodos, obras, essas, que escancaram o script abismal para o qual nos enviam e para o qual caminhamos a passadas largas. A síndrome de estocolmo e a autofagia da espécie são infindáveis e dilacerantes...);
- Nostromo, Joseph Conrad;
- O Homem Eterno e Ortodoxia, Chesterton;
- Os Miseráveis, Victor Hugo;
- O Processo, F, Kafka;
- O Nome da Rosa, U. Eco;
- O Poder do Mito, Joseph Campbell;
Os derradeiros, e já enquadrados na categoria ensaio, são:
- A Mentalidade Conservadora, R. Kirk;
- História das Ideias Políticas, Eric Voegelin;
- O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota, O Imbecil Coletivo, O Jardim das Aflições, A Nova Era e a Revolução Cultural e Aristóteles Em Nova Perspectiva, Olavo de Carvalho.
Por fim, referir que sem as leituras já realizadas - as supra prediletas descritas e as imensas não citadas - não me teria sido possível chegar até aqui e ter lavrado as três obras autorais que estão aí, despretensiosamente, aguardando serem notadas e que, sem pejo ou imodéstia, sempre farão parte deste meu diamantino catálogo. Garimpem e descubram-nas se for esse o vosso desejo...
Eco
Fonte/Créditos: Juntando as peças com cognição e intelecto próprio.
Comentários: