Em artigo divulgado neste domingo, em O Globo, o colunista Pablo Ortellado assume que a mídia e os demais histéricos erraram durante a pandemia, mas a culpa, segundo ele, é de Bolsonaro e da direita, em geral. Já no primeiro parágrafo, o colunista aponta os verdadeiros 'negacionistas', palavra muito utilizada para atacar qualquer pessoa que não repetisse o discurso da velha mídia.
"Quando[a direita] chegou ao poder com Bolsonaro e passou a comandar a burocracia do Estado, recebeu acertadamente oposição. Mas, em geral, essa oposição tomou a forma de uma negação automática: se Bolsonaro recomenda de maneira imprudente, a atitude responsável passou a ser afirmar enfaticamente o contrário."
Sem apontar os erros, o parágrafo seguinte inicia-se com uma crítica à coordenação de Bolsonaro em relação ao SUS, controle do Ministério da Saúde, a Anvisa e a Fiocruz. E finaliza com mais uma confissão.
"Na ânsia de se contrapor às teses selvagens e absurdas dele sobre o coronavírus e a pandemia, deixamos de analisar ideias próximas às dele ou que poderiam ser identificadas com ele. Isso nos levou a muitos erros na condução da pandemia — erros sobre os quais ainda não nos debruçamos."
O texto destaca, ainda, um artigo do professor da UFRJ Olavo Amaral, no Nexo Jornal, no qual o professor chamou a atenção para um estudo que apontava que a ivermectina não prevenia hospitalizações ou mortes, mas que reduzia o tempo de sintomas do paciente.
"A ivermectina ficou tão associada ao 'negacionismo' trumpista e bolsonarista que os autores do estudo provavelmente acharam que não era responsável destacar esse resultado, enfatizando, em vez disso, a ineficácia para reduzir hospitalizações e mortes."
O colunista reitera que o estudo, citado anteriormente, não foi o primeiro a mostrar a eficácia da ivermectina e que pelo menos outros quatro grandes estudos de 2022 mostravam o efeito positivo do medicamento nos diagnosticados com a covid. Ortellado lembra que a imprensa repetiu "centenas de vezes", com endosso de cientistas, que a eficiência da ivermectina não tinha comprovação científica.
"Mas, se naquele momento não havia estudo sólido recomendando a ivermectina, também não havia nenhum estudo sólido provando sua ineficácia."
No quinto parágrafo o colunista passa a acusar o ex-presidente pelos erros apontados anteriormente. Segundo ele Bolsonaro não dispunha de evidências científicas para recomendar a "ivermectina(ou a cloroquina)".
"Só que, para se opor a essa irresponsabilidade, cometemos o erro oposto. Afirmamos, equivocadamente, também sem boas evidências, que a substância era comprovadamente ineficaz."
O fique em casa também entrou o artigo divulgado pelo O Globo.
"Como Bolsonaro se opôs à quarentena para proteger a atividade econômica, a imprensa e os cientistas o contestaram, afirmando (corretamente) que a quarentena era a posição cientificamente respaldada. Mas não ficamos aí. A necessidade de nos contrapormos com vigor à posição irresponsável de Bolsonaro nos impediu de discutir com tranquilidade e comedimento em que medida deveríamos adotá-la."
Por fim, o jornalista assume que o posicionamento dos antibolsonaristas foi estritamente político.
"O antibolsonarismo bloqueou no debate público a discussão sobre a flexibilização da quarentena nas escolas. Quem quer tenha defendido a volta às aulas das crianças durante a pandemia foi automaticamente ignorado, tachado de bolsonarista. Não apenas não pudemos discutir na ocasião, como segue um tabu político revisitar criticamente nossa política abrangente de aulas remotas durante a pandemia."
A politização da ciência também entrou no mea culpa.
"Uma das consequências mais nefastas desse antibolsonarismo é ter distorcido o entendimento do público sobre a ciência. A ciência é feita de suposições cuja validade dura apenas até ser superada por entendimentos mais abrangentes. Em momentos de crise, quando o poder público lhe pede orientação, o que ela pode fazer é indicar o que parece ser o melhor caminho. A maneira correta de apresentar essa escolha é lembrar ao público que o caminho sugerido é apenas a melhor recomendação à luz das evidências disponíveis. Se não fizermos essa ressalva, e o caminho sugerido se mostrar depois equivocado, a confiança na ciência sairá abalada."
Muitos internautas o texto era para fazer uma autocrítica ou repassar a culpa pelos erros.
"Durante a pandemia, não tomamos esse cuidado. Para nos contrapormos à irresponsabilidade populista, transformamos essa recomendação “à luz das evidências disponíveis” em afirmação categórica que se dizia científica, mas na verdade era apenas dogmática. A ciência precisa se rever. Precisa estar aberta à contestação —e não pode se furtar a investigar uma hipótese apenas porque um populista irresponsável a defendeu. O antipopulismo por princípio não faz bem para a ciência e não faz bem para a política pública.", finalizou o colunista.
Créditos (Imagem de capa): Foto: Reprodução
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